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Não me parece nada boa ideia “canalizar” Energias (sempre
importantes) para a (nossa) “Esquerda Democrática” que em má hora nos conduziu
ao estado de pobreza em que nos encontramos.
E esta pobreza tem vários sentidos dialéticos e
estratégicos que não apenas o conteúdo material e financeiro caracterizado pelas
agências de referência,
terá muito mais de propriedade própria com uma crise de
valores políticos e morais que atravessa a sociedade e o sistema político de
gestão e administração da propriedade coletiva dos portugueses;
“Sistema político” diretamente conotável com a responsabilidade
cível da “esquerda democrática” portuguesa.
E qual será a razão próxima desta situação de relaxe
político e de desnorte de liderança ??
Tudo está em cima da mesa do reino para quem quiser ter
o “desplante” de a contemplar com vontade de ver.
[….]
Mas ressaltam algumas perguntas naturais…
Terão querido “as pessoas” envolvidas provocar algum
estado de guerra em Portugal ???
(nesse caso intenção manifestamente falhada)
E a tentativa de uma guerra civil com “armamento
militar” (na dimensão dos “eventos”) teria sido para quê ??...
(concretamente)
Parecem ser perguntas curiosas e estupefactas perante o
insólito da natureza e da intensidade da crise (propositadamente ?) provocada
em Portugal.
(…)
A conversa restante será desnecessária porque todos
sabemos as respostas certas para as nossas perplexas inquietações sobre o
défice olímpico de ética, moral e deontologia política que afetou alguns dos
nossos Presumíveis Cidadãos de Bem, de Honra e de Dignidade pessoal e
institucional;
Mas (de todo) não parece resultar outro “remédio” útil
que não seja fazermos o luto de tais factos de “guerra política” infligidos ao
país e à comunidade de cidadãos portugueses que insistem em manter reluzente e
acesa a chama viva da nacionalidade portuguesa numa Europa que, de forma clara,
reclama a nossa integração plena na paisagem da geografia estratégica e na
cidadania europeia.
[….]
Mas julga-se que valerá a pena insistir num raciocínio
higiénico:
_ Qual seria o resultado desejado para produto final de
um trabalho preparatório cauteloso e detalhado em profundidade nos “pormenores”
mais relevantes e sofisticados da implementação firme e determinada do desastre
político, económico e financeiro imposto ao Estado Português ???…
Provocar uma “Guerra Civil” em Portugal ??
E porquê e para quê ??...
Ou melhor,
qual seria a solução final ambicionada e o “Estatuto
Político” residual na caracterização do grupo envolvido ??...
A liderança da Nação ?
Parece tudo uma “brincadeira” de (muito) mau gosto,
estupidamente disparatada e patética,
e serão perguntas tolas à brisa enjoada que passa por
nós nestes momentos de reflexão pública descuidada e (muito) incómoda.
Mas haverá respostas incontornáveis,
indiscutivelmente presumidas,
e serão uma suposição óbvia (claro),
porque o Objetivo Final seria apenas Fazer Cair o Estado Democrático e de
Direito Português…
[o que parece ser Extraordinário (!!) para quem olha
para a paisagem política envolvida]
(…)
O paradigma político do século XX foi, sem dúvida
nenhuma, a questão de saber como destruir o Estado (!!);
E um pouco por todo o mundo, de leste a oeste e de
norte a sul do planeta azul,
toda a “gente” pretende descobrir a melhor e mais
elaborada maneira de destruir o aparelho do Estado do país que o viu nascer e
lhe deu uma identidade e uma cidadania de “membro do mundo”.
E esta questão atingiu (sem grandes alardes) a sua
culminação no final do século XX e início do século XXI,
a tal ponto que nas zonas mais agitadas do globo esta
problemática entrou em fase de autodestruição civilizacional;
Falamos, portanto, da Europa, uma das zonas mais ricas
e prósperas do mundo, e onde a qualidade de vida é mais sofisticada mas também
volátil,
ou seja, países onde a sua componente de Segurança e
Defesa Nacional deveria ser especialmente forte, operacionalizada e musculada.
Mas o paraíso político da democracia e do liberalismo
económico (ou do libertarianismo para caracterizar melhor a “coisa”) apontam em
sentido contrário;
No caso do liberalismo “libertarianista” a estupidez da
cegueira do capital e dos valores financeiros negam uma visão política e
estratégica correta e adequada, ou seja, onde se dê primazia à Segurança do
Estado segundo princípios Keynesianos;
(… porque as agências financeiras de segurança e defesa
ainda não deram provas cabais da sua eficiência e eficácia…)
Quanto ao paradigma da Burrice Cega da Democracia e dos
políticos democratas que vêm no regime que os elege (à categoria de nobreza
real) um oásis de liberdade e de independência pessoal e institucional,
assegurada por princípios de segurança irrefutáveis e
de independência estrutural imbatível que os proclama como casta superior do
seu reino político,
talvez se deva dizer que mais imbecil não poderia ser o
seu raciocínio primário e mais vulnerável também não poderia ser o seu “império
político”.
E
as consequências de tais desvarios e dos desvios à realidade da “vida na selva
natural” também não poderiam ser mais reais, visíveis e enfáticos de significância
política, filosófica e estratégica;
Se bem que, neste caso, haverá mais e melhores razões a
reputar como privilegiadas na “Causa das Coisas”,
concretamente a “Causa Africânder” e o africanismo
colonial enquanto cultura política enraizada na medula e no sangue vital que
corre pelo corpo da “intelectualidade burguesa” que governa Portugal de norte a
sul,
e da esquerda política radical à direita política ultra
conservadora.
(…)
E até poderia ser assim a “morte do artista”,
se não houvesse “outros” a cuidar do nosso corpo e da
nossa alma de povo português de Deus e do mundo.
[….]
O Estado pode perecer por duas (únicas) razões – para as
bestas imberbes perceberem (…) - ou através de uma Guerra (vinda do exterior)
ou numa Revolução dos seus “súbditos” e povo correligionário;
(e cúmplice nos objetivos de Pátria e de Nação…)
E tal circunstância, nas condições atuais de estado
democrático e de direito, é absolutamente ridícula,
e também por duas razões;
A primeira é que a Europa (restante) quer-nos como
parceiros comunitários e não como adversários (de nada nem de coisa nenhuma),
até porque somos excelentes criados, sopeiras, serventes, e até técnicos
qualificados para os servirem com garbo e excelência porque eles pagam muito
bem;
A segunda diz respeito a uma questão também ela
razoavelmente simples – é que as suas Forças Armadas (de Portugal) só fazem
revoluções “uma vez por século”, ou seja, quando “tal circunstância” é um caso
perdido,
e um caso de viver ou de morrer em termos
civilizacionais (e em seu nome) pelo país chamado Portugal.
Como no século passado já aconteceu duas vezes,
sendo tudo história militar cognitiva numa perspetiva (perigosamente)
intelectual e filosófica.
[….]
Sugiro a leitura do texto ilustrativo em anexo.
§§§§
/ §§§§
ANEXO – LEITURA BIBLIOGRÁFICA:
………………..
“…
de:
Como É Que O
Estado Se Preserva
[….]
Uma vez o estado estabelecido, o problema do grupo ou
“casta” dominante é o de manter o seu domínio. Embora o seu modus operandi seja
o da força, o seu problema básico e de longo curso é ideológico. Pois para
continuar no poder, qualquer governo (não simplesmente um governo
“democrático”) tem que ter o apoio da maioria dos seus súbditos.
Esse apoio, note-se, não precisa de ser um entusiasmo
ativo; pode bem ser uma resignação passiva como se de uma lei inevitável da
natureza se tratasse. Mas tem que haver apoio no sentido de algum tipo de
aceitação; caso contrário a minoria dos governantes estatais seria em última
instância suplantada pela resistência ativa da maioria do público.
Uma vez que a depredação tem que ser mantida por um
excedente na produção, é necessariamente verdadeiro que a classe que constitui
o estado – a burocracia estabelecida (e a nobreza) – tem que ser uma pequena
fração minoritária no território, embora possa, claro, comprar aliados entre os
grupos importantes da população.
Como tal, a principal tarefa dos governantes é sempre a
de assegurar a aceitação ativa ou resignada da maioria dos cidadãos.
(….)
Sempre que um governante se faz ditador… todos aqueles
que se deixam corromper pela ambição desmedida ou por uma avareza extraordinária,
reúnem-se em torno dele e apoiam-no para que possam ficar com uma porção do
espólio e para se instalarem como pequenos chefes abaixo do grande tirano.
Claro que um dos métodos para assegurar o apoio é
através da criação de interesses económicos legalmente garantidos. Como tal, o
rei sozinho não pode governar; ele precisa de um grupo considerável de
seguidores que desfrutem dos pré-requisitos da governação, por exemplo, os
membros do aparato estatal, tal como a burocracia a tempo inteiro ou a nobreza estabelecida.
(…)
Os intelectuais são, por isso, os “formadores de
opinião” na sociedade. E uma vez que é precisamente um moldar da opinião o que
o estado desesperadamente precisa, a razão da antiquíssima aliança entre o
estado e os intelectuais torna-se clara.
É evidente que o estado precisa de intelectuais; não é
tão evidente por que é que os intelectuais precisam do estado. Posto de forma
simples, podemos afirmar que o sustento do intelectual no mercado livre nunca é
muito certo; pois o intelectual tem que depender dos valores e das escolhas das
massas dos seus concidadãos e é precisamente característico das massas o facto
de estarem geralmente desinteressadas de assuntos intelectuais.
O estado, por outro lado, está disposto a oferecer aos
intelectuais um ninho seguro e permanente no seio do aparato estatal; e como
tal um rendimento certo e a panóplia do prestígio. Pois os intelectuais serão
generosamente recompensados pela importante função que eles executam para os
governantes do estado, grupo ao qual eles agora pertencem.
(….)
Outra venerável instituição é a do historiador oficial
ou historiador “da corte”, dedicada a fornecer a visão dos governantes acerca
das suas ações e das dos seus predecessores.
Muitos e variados têm sido os argumentos através dos
quais o estado e os seus intelectuais têm induzido os seus súbditos a apoiar o
seu domínio. As linhas de argumento podem basicamente ser resumidas assim: (a)
os governantes estatais são homens sábios, grandes homens (governam por
“decreto divino”, são a “aristocracia” dos homens, são os “especialistas
científicos”), muito melhores e mais sábios do que os seus bons, mas simples,
súbditos, e o domínio pelo governo é inevitável, absolutamente necessário e de
longe melhor do que os males indescritíveis que sucederiam à sua queda.
A união da igreja e do estado foi um dos mais bem
sucedidos, e dos mais antigos, destes mecanismos ideológicos. O governante ou
era abençoado (escolhido) por Deus ou era ele mesmo, no caso do domínio
absoluto de muitos déspotas Orientais, o próprio Deus; como tal, qualquer
resistência ao seu domínio seria blasfémia. Os sacerdotes do estado cumpriam a
função básica intelectual de obter o apoio popular e até a adoração aos
governantes.
(….)
Pois o estado, para preservar o seu próprio monopólio
de depredação, assegura-se de facto que o crime privado e não-sistemático seja
mantido no seu mínimo; o estado sempre zelou pela sua própria preservação. Nos
séculos mais recentes, o estado tem sido especialmente bem sucedido em fomentar
o medo acerca de outros governantes estatais.
Dado que a área territorial do globo tem sido parcelada
entre estados específicos, uma das doutrinas essenciais do estado foi a de se
identificar com o território que domina. Uma vez que a maioria das pessoas
tende a amar a sua terra natal, a identificação dessa terra e do seu povo com o
estado foi um meio de usar o patriotismo natural para vantagem do estado. Se a
“Ruritânia” estivesse a ser atacada pela “Ualdávia”, a primeira função do
estado e dos seus intelectuais era convencer as pessoas da Ruritânia que o
ataque era dirigido a eles e não apenas à casta dominante.
Desta forma uma guerra entre governantes era convertida
numa guerra entre povos, em que a massa dos indivíduos agia em defesa dos seus
governantes na crença falsa de que os governantes os estavam a defender a eles.
Este mecanismo do “nacionalismo” tem sido útil no Ocidente apenas em séculos
recentes; não há muito tempo atrás, a massa de súbditos olhava para as guerras
como batalhas irrelevantes entre diversos grupos de nobres.
São muitas e subtis as armas ideológicas que o estado
tem manejado através dos séculos. Uma dessas armas excelentes tem sido a
tradição. Quanto mais tempo o domínio de um estado se consegue preservar, mais
poderosa é esta arma; porque então a Dinastia X ou o estado Y tem o aparente
peso dos séculos por detrás de si. A adoração aos antepassados passa então a
ser a forma não muito subtil de adoração dos antigos governantes.
O maior perigo para o estado é a crítica intelectual
independente; não há forma melhor de abafar esse criticismo do que atacar
qualquer voz isolada, qualquer um que levante novas dúvidas, como um profano
violador da sabedoria dos seus ancestrais.
Outra potente força ideológica é a de desaprovar e
rebaixar o indivíduo e exaltar a coletividade da sociedade. Pois uma vez que
qualquer tipo de domínio implica uma aceitação da maioria, qualquer perigo
ideológico para o domínio pode apenas começar a partir de um ou poucos
indivíduos de pensamento independente.
A nova ideia, e ainda mais a nova ideia crítica, só
pode ter início como uma pequena opinião minoritária; como tal, o estado tem
que cortar a ideia pela raiz ridicularizando qualquer ponto de vista que ponha
em causa a opinião das massas.
“Ouve apenas os que são da mesma opinião que tu” ou
“ajusta-te à sociedade” tornam-se assim as armas para esmagar a dissensão
individual. Através destes meios, as massas nunca vão aprender acerca da
não-existência da roupa do Imperador (“o rei vai nu”).
Tudo o que o governo consegue ver numa ideia original é
o potencial para a mudança, e dessa forma uma invasão das suas prerrogativas.
O homem mais perigoso, para qualquer governo, é o homem
que é capaz de pensar por si mesmo acerca dos assuntos, sem ter em conta as
superstições e os tabus prevalecentes.
Quase inevitavelmente, ele chega à conclusão que o
governo sob o qual vive é desonesto, louco e intolerável, e por isso, se for um
aventuroso, ele tenta mudá-lo. E mesmo que ele próprio não seja aventuroso, ele
é muito capaz de espalhar o descontentamento entre aqueles que o são.
É também muito importante que o estado faça parecer que
o seu domínio é inevitável; mesmo que o seu reinado seja detestado, será dessa
forma olhado com uma resignação passiva, tal como atesta o dito acerca da
“inevitabilidade da morte e dos impostos”.
Um método é o da indução do determinismo
historiográfico, em oposição ao livre arbítrio individual. Se a Dinastia X nos
governa é porque as Inexoráveis Leis da História (ou a Vontade Divina, ou o
Absoluto, ou as Forças Produtivas Materiais) assim o determinaram e nada que
uns indivíduos insignificantes possam fazer será capaz de alterar este decreto
inevitável.
É também importante para o estado inculcar nos seus
súbditos uma aversão a qualquer “teoria da conspiração na história”; pois uma
busca por conspirações significa uma busca por motivos e uma atribuição de
responsabilidade por delitos históricos.
Se, contudo, qualquer tirania imposta pelo estado, ou
depravação, ou agressão militar, foi causada não pelos governantes estatais mas
por misteriosas e arcanas “forças sociais”, ou pelo estado imperfeito do mundo
ou, se de alguma forma, todos foram responsáveis, então não há qualquer razão
para as pessoas ficarem indignadas ou se insurgirem contra tais delitos.
Além disso, um ataque às “teorias da conspiração” tem
como objetivo que os súbditos se tornem mais crédulos em relação às razões de
“bem-estar geral” que são sempre apresentadas pelo estado como justificação
para os seus atos despóticos.
Uma “teoria da conspiração” pode perturbar o sistema
por fazer com que o público ponha em causa a propaganda ideológica do estado.
Outro velho e eficaz método para curvar os súbditos à
vontade do estado é a indução da culpa. Qualquer aumento do bem-estar privado
pode ser atacado como “ganância inaceitável”, “materialismo” ou “riqueza
excessiva”, o lucro pode ser atacado como “exploração” e “agiotagem”, as trocas
mutuamente benéficas são denunciadas como “egoístas” chegando-se sempre, de
alguma forma, à conclusão de que deviam ser canalizados mais recursos do
privado para o “sector público”.
A culpa induzida torna o público mais pronto para fazer
esta transferência. Enquanto que os particulares tendem a se entregar à “cobiça
egoísta”, a incapacidade dos governantes estatais em realizar intercâmbios
significa supostamente a sua entrega a causas mais nobres e elevadas – a
depredação parasítica sendo aparentemente mais elevada, estética e moralmente,
do que o trabalho pacífico e produtivo.
Na era presente, mais secular, o direito divino do
Estado foi suplantado pela invocação de um novo deus, a Ciência.
O governo estatal é agora proclamado como
ultracientífico, como constituído por um painel de especialistas. Mas mesmo que
a “razão” seja mais invocada do que em séculos passados, essa não é a
verdadeira razão do indivíduo e do seu exercício de livre arbítrio; é ainda a razão
coletivista e determinista, que implica sempre agregados holísticos e a
manipulação coerciva de súbditos passivos pelos seus governantes.
O aumento do uso de gíria científica permitiu aos
intelectuais do estado tecer justificações obscurantistas para o domínio
estatal que teriam sido imediatamente recebidas com irrisão pela população de
uma época mais simples.
Um assaltante que justificasse o seu roubo dizendo que
na verdade ajudou as suas vítimas pois o gasto que fez do dinheiro trouxe um
estímulo ao comércio, teria convencido pouca gente; mas quando esta teoria se
veste com equações Keynesianas e referências imponentes ao “efeito
multiplicador”, é infelizmente recebida com maior respeito. E assim o assalto
ao bom senso continua, em cada época realizado de maneira diferente.
Por conseguinte, sendo o apoio ideológico indispensável
para a manutenção do estado, este é incessantemente obrigado a impressionar o
público com a sua “legitimidade” de forma a distinguir as suas actividades das
de uma mera quadrilha mafiosa.
A contínua determinação dos seus assaltos ao senso
comum não é acidental pois, tal como sustenta vividamente Mencken:
O homem comum, qualquer que sejam as suas falhas, pelo
menos vê claramente que o governo é algo que existe à parte de si e à parte da
maioria dos seus concidadãos – que o governo é um poder desassociado,
independente e hostil, apenas parcialmente sob o seu controlo e capaz de o
prejudicar seriamente. Não é por acaso que roubar o governo é visto em geral
como um crime de menor magnitude do que roubar um indivíduo, ou até uma
empresa…
O que está por detrás deste sentimento, creio eu, é o
profundo sentido de antagonismo fundamental entre o governo e as pessoas que
ele governa. O governo é tido não como um comité de cidadãos eleitos para
resolver os problemas comuns a toda a população mas como uma empresa autónoma e
separada, dedicada principalmente à exploração da população para benefício dos
seus próprios membros…
Quando um cidadão particular é roubado, uma pessoa
digna foi privada dos frutos do seu esforço e dedicação; quando o governo é
roubado, o pior que acontece é que uns patifes ociosos ficam com menos dinheiro
para brincar do que antes. A noção de que mereceram ganhar esse dinheiro não
passa pela cabeça de ninguém; essa ideia é ridícula para qualquer pessoa
sensata.
[….]
O Que O Estado Teme
O que o estado teme acima de tudo, claro, é qualquer
ameaça fundamental ao seu próprio poder e à sua existência.
A
morte do estado pode acontecer de duas formas: (a) através da conquista por
outro estado, ou (b) através de um derrube revolucionário feito pelos seus
próprios súbditos – ou seja, através da guerra ou da revolução.
Guerra e revolução, sendo as duas ameaças essenciais,
suscitam invariavelmente nos governantes estatais uma resposta máxima e a
máxima propaganda direccionada à população.
Tal como dissemos anteriormente, qualquer meio deve
sempre ser usado para mobilizar as pessoas a defender o estado na crença de que
se estão a defender-se a si mesmas.
A fraude subjacente a esta ideia torna-se evidente
quando a conscrição é usada contra aqueles que se recusam a “defender-se” e que
são, como tal, forçados a juntar-se ao bando militar do estado: escusado será
dizer que não lhes é permitida qualquer “defesa” contra este acto do “seu
próprio” estado.
Em guerra, o poder do estado é levado ao extremo, e sob
os slogans da “defesa” e da “emergência” pode impor uma tirania ao público que,
em tempos de paz, seria abertamente resistida.
Como tal a guerra provê muitos benefícios a um estado
e, de facto, todas as guerras modernas trouxeram aos povos envolvidos um legado
permanente de maiores fardos estatais sobre a sociedade.
A guerra, além disso, provê ao estado tentadoras
oportunidades para conquistar territórios sobre os quais pode exercer o seu
monopólio da força. Randolph Bourne estava certamente correcto quando escreveu
que “a guerra é a saúde do estado” mas, para qualquer estado em particular, uma
guerra pode significar ou saúde ou danos graves.
Temos visto que o apoio por parte dos intelectuais é
fundamental ao estado, e isto inclui o apoio contra as suas duas ameaças
essenciais.
Assim, acerca do papel dos intelectuais Americanos no
envolvimento da América na Primeira Guerra Mundial, ver Randolph Bourne, “The
War and the Intellectuals,” in The History of a Literary Radical and Other
Papers (New York: S.A. Russell, 1956), p. 205–22.
Tal como Bourne evidencia, um dos métodos comuns dos
intelectuais para ganhar o apoio do público para as acções do estado é o de
desviar qualquer discussão para os limites da política do estado e de
desencorajar qualquer crítica total ou fundamental deste enquadramento básico.
Tal como Mencken o descreve, à sua maneira
inconfundível:
Este gang (“os exploradores que formam o governo”) é
praticamente imune ao castigo. As suas extorsões mais graves, mesmo quando são
claramente para proveito privado, não acarretam qualquer pena certa sob as
nossas leis. Desde os primeiros dias da República que menos de umas podemos
testar a hipótese de que o estado está principalmente interessado em
proteger-se a ele mesmo e não aos seus súbditos pondo a questão: que categoria
de crimes é que o estado persegue e pune mais intensamente – aqueles contra os
cidadãos particulares ou aqueles contra ele próprio?
Os crimes mais graves no vocabulário do estado são
quase invariavelmente não agressões contra pessoas e propriedade privada, mas
sim ataques contra o seu próprio bem-estar, por exemplo, traição, deserção de
um soldado para campo inimigo, faltar ao alistamento, subversão e conspiração
subversiva, assassinato de governantes e crimes económicos contra o estado tais
como falsificação da sua moeda ou evasão fiscal ao imposto sobre o rendimento.
Compare-se o grau de zelo dedicado a perseguir um homem
que tenha atacado um polícia com a atenção que o estado presta ao assalto a um
cidadão comum.
Curiosamente, no entanto, a prioridade abertamente
concedida do estado à sua própria defesa contra o público levanta poucas suspeitas
de incongruência em relação à sua presumível razão para existir.
[….]
…”
………………..