Prova-se que esclavagismos há muitos, de diferente forma e maneira, e (essencialmente) com objectivos ecológicos diferentes.
De entre as diferentes formas causa impressão a escravatura entre a espécie humana, talvez pela irracionalidade biológica e política das relações envolvidas entre as “partes outorgantes” de um negócio irreal porque inexistente na sua concepção formal;
Ou seja, a Lei do Mais Forte que determina a sorte e o destino dos fracos, e por isso mesmo oprimidos por um sistema sem base legal de funcionamento que não seja a arbitrariedade da superioridade biológica, política ou racial.
Estados Virtuais, portanto, na sua base legal institucionalizada e estratégica.
(…)
Os Ingleses foram o primeiro “Povo” do mundo a Abolir a Escravatura, e fizeram ainda mais, lutaram e fizeram guerras (durante quase dois séculos) para que outros povos e outras terras fizessem o mesmo – abolissem a escravatura entre a espécie humana;
Tal situação saiu-lhes cara e foram combatidos em todos os continentes aonde tinham impérios coloniais, com relevo para África, América e Europa.
Portugal aboliu a escravatura um século depois dos ingleses e fomos directamente compelidos a essa “Atitude Política e Racial” por acção política, estratégica e militar directa do poder da Coroa Inglesa.
(daí talvez a natureza da nossa revolta histórica materializada em contos e em poesia popular contra os ingleses)
Aliás, impressiona-me pessoalmente que em Portugal se comemore com pompa e circunstância política envolvente e de grande significado a ocorrência da Guerra Peninsular (vulgo Invasões Francesas) sem que se faça referência ao mais importante, crítico e crucial:
_ A questão política principal envolvida no diferendo entre França e Inglaterra (que acabou por envolver Portugal e Espanha através do intento colonial de Napoleão materializado na invasão da Península Ibérica) era exactamente a questão do Comércio Esclavagista que os Franceses queriam manter à força do seu poderio naval contra a conduta política e militar dos Ingleses, que pretendiam abolir a escravatura em todos os domínios da Coroa Britânica (ou seja, em todos os mares e em todos os continentes).
Portanto, os ingleses andam “Nisto” há mais de dois séculos de história, sendo que a grande maioria dos confrontos mundiais políticos e militares da história recente do mundo envolvem directamente a questão política do Esclavagismo e da Escravatura Humana.
Por exemplo, a 1ª Guerra Mundial e a 2ª Guerra Mundial envolvem questões políticas e estratégicas profundamente conotadas com a envolvência sociológica do Esclavagismo e da Escravatura;
A mais poderosa e visível de todas será o “Problema Judeu” e a respectiva “Solução Final” de Adolfo Hitler.
(…)
Mais recentemente, haverá a registar a problemática envolvida nos conflitos nos Balcãs, nas ex-Repúblicas Soviéticas e em Países Africanos que foram colónias de países colonizadores europeus.
[como é o caso de Portugal na Guiné, Angola e Moçambique, da Holanda na África do Sul e Rodésia, e a Alemanha na região dos Grandes Lagos – Ruanda, Burundi, etc.]
(…)
Tudo o mesmo problema Geopolítico e Geoestratégico – a Escravatura Humana e a Cultura Esclavagista envolvente !!
( etc. …………)
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ANEXO – ILUSTRAÇÃO TEMÁTICA:
ANEXO – ILUSTRAÇÃO TEMÁTICA:
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“…
de:
A escravidão (denominada também escravismo, escravagismo e escravatura) é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força.
Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria. Os preços variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, a idade, a procedência e o destino.
O dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer qualquer direito e objecção pessoal ou legal, mas isso não é regra.
Não era em todas as sociedades que o escravo era visto como mercadoria: na Idade Antiga, haja vista que os escravos de Esparta, os hilotas, não podiam ser vendidos, trocados ou comprados, isto pois ele eram propriedade do Estado espartano, que podia conceder a proprietários o direito de uso de alguns hilotas; mas eles não eram propriedade particular, não eram pertencentes a alguém, o Estado é que tinha poder sobre eles.
A escravidão da era moderna está baseada num forte preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico ao qual pertence o comerciante é considerado superior, embora já na Antiguidade as diferenças raciais fossem bastante exaltadas entre os povos escravizadores, principalmente quando havia fortes disparidades fenotípicas.
Na antiguidade também foi comum a escravização de povos conquistados em guerras entre nações.
Enquanto modo de produção, a escravidão assenta na exploração do trabalho forçado da mão-de-obra escrava. Os senhores alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto restante do trabalho destes.
A exploração do trabalho escravo torna possível a produção de grandes excedentes e uma enorme acumulação de riquezas, contribuindo assim para o desenvolvimento económico e cultural que a humanidade conheceu em dados espaços e momentos:
_ construíram-se diques e canais de irrigação, exploraram-se minas, abriram-se estradas, construíram-se pontes e fortificações, desenvolveram-se as artes e as letras.
Nas civilizações escravagistas, não era pela via do aperfeiçoamento técnico dos métodos de produção (que se verifica aquando da Revolução Industrial) que os senhores de escravos procuravam aumentar a sua riqueza; e os escravos, sem qualquer interesse nos resultados do seu trabalho, não se empenhavam na descoberta de técnicas mais produtivas.
Opinião oposta sobre a produtividade do escravo teve o economista Molinaire, citado pelo deputado Pedro Luís, na sessão de 10 de maio de 1888, na Câmara dos Deputados do Brasil:
_ Molinaire diz que, em geral, o trabalho do liberto é um terço menos produtivo que o trabalho do escravo, sendo necessários dez libertos para os serviços que eram feitos por sete escravos. Dá as razões deste fato e conclui que, na melhor das hipóteses, continuando os libertos todos nos estabelecimentos rurais, teremos uma diferença de 1/3 para menos na produção!
_ Molinaire diz que, em geral, o trabalho do liberto é um terço menos produtivo que o trabalho do escravo, sendo necessários dez libertos para os serviços que eram feitos por sete escravos. Dá as razões deste fato e conclui que, na melhor das hipóteses, continuando os libertos todos nos estabelecimentos rurais, teremos uma diferença de 1/3 para menos na produção!
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de:
Esclavagismo é um tipo de relação ecológica entre seres vivos onde um ser vivo se aproveita das actividades, do trabalho ou de produtos produzidos por outros seres vivos.
Existem duas modalidades de esclavagismo:
• Esclavagismo interespecífico
• Esclavagismo intraespecífico
Esclavagismo interespecífico é uma modalidade de esclavagismo quando esse tipo de relação ocorre entre indivíduos de diferentes espécies de seres vivos, exemplos:
• humanos e abelhas
• formigas e pulgões
• esquilos e pica-paus
• fragatas e gaivotas
Exemplo: As formigas cuidam e protegem os pulgões para obter o açúcar deles. Os pulgões são pequenos insectos parasitas de plantas que passam a maior parte do tempo parados, sugando a seiva açucarada que circula pelos vasos liberianos das plantas.
A seiva elaborada pelas plantas possui uma pequena quantidade de aminoácidos mas uma grande quantidade do açúcar glicose, assim para obter a quantidade de aminoácidos que necessitam para formar as suas próprias proteínas, os pulgões precisam sugar uma quantidade exagerada de seiva açucarada de forma que esse excesso de açúcar ingerido precisa ser excretado.
As formigas lambem todo esse açúcar que fica saindo constantemente do abdómen dos pulgões e assim os mantendo sempre limpos e protegidos.
As formigas protegem os pulgões de eventuais predadores como por exemplo as joaninhas que são predadores que gostam de caçar e comer os pulgões.
Por outro lado o açúcar é um importante alimento para as formigas então elas se associam a esses pulgões produtores de açúcar escravizando-os.
As formigas inclusive tratam e protegem os filhotes dos pulgões, cuidam deles, levam eles de um lado para outro para protegê-los em locais mais seguros nos caules das plantas levando-os inclusive para dentro do próprio formigueiro delas onde os instalam junto a raízes de plantas vivas e esses pulgões passam a sugar essas raízes fornecendo açúcar para as formigas até mesmo debaixo da terra, dentro dos formigueiros delas.
O esclavagismo consiste numa relação onde o esclavagista sempre cuida e protege os seres que foram por ele escravizados e nesse exemplo embora exista protocooperação a relação é considerada desarmónica devido a dependência que os pulgões passaram a ter das formigas.
Na protocooperação um sócio não depende do outro para sobreviver mas, nesse caso se as formigas abandonassem os pulgões eles não conseguiriam se defender das joaninhas, seriam todos eles devorados e a espécie deles seria extinta. (…)
Nossa superpopulação de seres humanos pratica o esclavagismo em praticamente todas as actividades agropecuárias e em todas as áreas da zootecnia. Todas as actividades de domesticação feita pelos humanos são relações de Esclavagismo Interespecífico, exemplos: apicultura, aquicultura, avicultura, bovinocultura, caprinocultura, cunicultura, equinocultura, ovinocultura, sericicultura, suinocultura.
Apicultura: Relação onde o homem cuida e protege as abelhas para obter diversos produtos como o mel, cera de abelha, própolis, geléia real, pólem além é claro do precioso trabalho de polinização feito pelas abelhas em suas lavouras e pomares.
Ranicultura: Relação onde o homem cuida e protege as rãs para obter produtos como a carne de rã, o couro de rã além é claro obter o precioso trabalho das rãs que é o de comerem insectos nocivos ao homem.
Bovinocultura: Relação onde o homem cuida e protege os bovinos para obter produtos como a carne bovina, o leite, o couro, os ossos e outros produtos derivados dessa nossa relação com os bovinos. (…)
Esclavagismo intraespecífico é uma outra modalidade de esclavagismo que ocorre quando esse tipo de relação se desenvolve entre indivíduos da mesma espécie, exemplos:
_ O leão "macho alfa" do bando é um esclavagista porque se aproveita do trabalho das leoas. A hiena "matriarca" do bando é uma esclavagista porque se aproveita do trabalho do bando. O homem é ou já foi esclavagista se aproveitando do trabalho de escravos humanos.
(…)
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de:
Nas comunidades bióticas dentro de um ecossistema encontram-se várias formas de interacções entre os seres vivos que as formam, denominadas relações ecológicas ou interacções biológicas.
Essas relações se diferenciam pelos tipos de dependência que os organismos mantêm entre si. Algumas dessas interacções se caracterizam pelo benefício mútuo de ambos os seres vivos, ou de apenas um deles, sem o prejuízo do outro. Essas relações são denominadas harmónicas ou positivas.
Outras formas de interacções são caracterizadas pelo prejuízo de um de seus participantes em benefício do outro. Esses tipos de relações recebem o nome de desarmónicas ou negativas.
(…)
Competição:
• Existem duas modalidades de competição:
_ Competição interespecífica
_ Competição intraespecífica
A competição interespecífica é uma relação de competição entre indivíduos de espécies diferentes, que concorrem pelos mesmos factores do ambiente, factores existentes em quantidades limitadas.
• Alguns exemplos: o Corujas, cobras e gaviões são predadores que competem entre si pelas mesmas espécies de presas, principalmente por pequenos roedores (ratos, preás, coelhos etc...) que são as presas prediletas destes diferentes predadores, portanto é uma competição por alimento.
o Árvores de diferentes espécies crescendo umas muito próximas das outras competem entre sí pelo espaço para as copas das árvores se desenvolverem e assim obterem mais luz solar para realizarem a fotossíntese, portanto é uma competição por luz solar.
o Durante os períodos de estiagem ou seca prolongada fica sem chover durante meses fazendo com que a oferta de água potável se reduza drásticamente no ambiente e fazendo com que animais de diversas espécies diferentes sejam obrigados a competir pela água que ainda resta em pequenas poças d´água que ainda existem num lugar ou noutro mas que não são suficientes para matar a sede de todos eles, portanto uma competição por água potável.
o Existem muitos outros fatores que levam seres vivos de diferentes espécies a competirem uns com os outros.
A competição intraespecífica é uma relação de competição entre indivíduos da mesma espécie, que concorrem pelos mesmos factores do ambiente, que existem em quantidade limitada. Machos de uma mesma espécie precisam competir entre si pelas fêmeas dessa mesma espécie, fenómeno esse chamado "selecção sexual".
Na verdade existe muito exibicionismo evidente nos comportamentos relacionados à competição que ocorre durante a selecção sexual nas populações das espécies em geral.
O leão por exemplo tem que competir com os outros leões do bando porque os leões praticam a poligamia patriarcal e é necessário competir, lutar para ganhar ou perder, a chance de se acasalar com todas aquelas fêmeas do bando.
Para ser o "macho alfa" do bando o leão terá que ser o mais corajoso dentre todos os leões daquele território porque terá que enfrentar todos os outros machos que também pretendem essas mesmas leoas e apenas um leão é eleito pelas fêmeas o "macho alfa" que terá o direito de cobrir todas as leoas do bando enquanto que os perdedores não se reproduzem.
Além de ter que ganhar a luta com todos os outros leões do bando, o "macho alfa" campeão nessas lutas tem também que exibir seu urro forte para impressionar as leoas, exibir sua juba linda, suas garras afiadas, exibir vigor físico e autoridade superior, tudo isso para poder ser eleito e aceito pelas leoas que também têm lá seus critérios de avaliação pois são elas que elegem quem será o novo "macho alfa" que terá o direito de se acasalar com todas elas.
Nessas competições os leões derrotados podem inclusive se vingar do "macho alfa" e matar todos os filhotes dele, para com isso tirá-lo do poder e estimular novamente o cio das fêmeas para que outro "macho alfa" seja eleito e tenha a chance de acasalar e obter a sua própria descendência.
A competição entre os leões é contínua.
Outros exemplos semelhantes são os galos que competem entre si usando suas esporas uns contra os outros, carneiros competem lutando com cabeçadas, aranhas lutam com venenos, o pavão exibe a sua cauda esplêndida para competir com as caudas dos outros pavões, sapos competem entre si usando o coaxar e algumas exibindo o peito colorido e inflado, pássaros canoros competem entre si exibindo o canto afinado e as cores da plumagem, vagalumes competem exibindo as suas luzes no escuro, os grilos competem exibindo seus sons à noite.
A competição intraespecífica na espécie humana:
Para seleccionar quem será a mãe de seus filhos o homem elege alguns factores como atributos indispensáveis para considerar uma mulher como sua esposa e a esposa também tem suas preferências.
A aparência, a altura, o peso, a cor dos olhos, o tipo de corpo se é atraente, sensual, se a pessoa é bonita, se seu cheiro é bom ou não, o bom hálito, os belos dentes, se a pessoa é agradável, se é simpática, se é bem humorada, se seu corpo é rígido ou flácido, se é jovem ou não, se é sadio ou não, enfim a beleza humana de uma forma ampla é um factor muito importante na competição humana que é muito complexa porque além da beleza física a situação de cada um dentro da sociedade humana também são factores preponderantes nesse tipo de competição humana, a classe social a que pertence, quanto ganha, quantos títulos têm, qual o cargo, qual a empresa, que tipo de autoridade têm, quantos imóveis tem, que marca de carro usa, que perfumes usa, que jóias usa, de quais clubes é sócio, que produtos consome, antecedentes criminais, antecedentes civis, que cursos se formou, qual sua situação económica actual, que desportos pratica, de qual etnia é descendente, às vezes até qual religião a pessoa tem pesa nessa competição também.
Enfim tudo isso e muito mais, são ícones atractivos sexuais importantes na disputa entre machos com machos e fêmeas com fêmeas de nossa espécie, para decidir quem fica com quem, quais os casamentos serão realizados para constituir as famílias humanas.
Além disso nas actividades humanas existem muitas outras formas de competições voltadas a outras finalidades além do sexo:
_ Competição por empregos, por cargos na hierarquia dentro de uma empresa ou instituição, competição comercial entre uma empresa e outra, competição por terras e territórios, competição ideológica, religiosa, filosófica, competições desportivas dentre outras formas de competição. A competição e a selecção natural:
A competição em ambas modalidades, interespecífica ou intraespecífica constitui-se no principal instrumento da selecção natural onde vencem as formas de vida mais bem adaptadas ao meio ambiente, os mais hábeis, os mais fortes, os mais bonitos, os mais saudáveis, os mais poderosos etc...
Dessa forma os mais fracos e menos adaptados ao meio ambiente não se reproduzem, não mandam seus genes para as gerações futuras e além disso esses derrotados frequentemente morrem por diversos motivos, morrem de fome, morrem de sede, morrem de infecções devido aos ferimentos ocorridos nessas lutas e assim, a competição é um factor selectivo, selecciona os melhores organismos da população contribuindo assim para o melhoramento genético da espécie e sendo também um factor regulador da densidade populacional, evitando que a população da espécie cresça exageradamente se transformando numa superpopulação o que poderia levar a espécie a se tornar uma praga biológica causando desorganização na teia alimentar do ecossistema e até em outros níveis mais elevados do espectro biológico.
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de:
Bota Acima
Blogue de João Tunes
Cada etapa da história tem o seu tempo e só pode ser analisada em função desse tempo.
Mas existem fases bárbaras, tão bárbaras, que mesmo atendendo à circunstância, aos usos e costumes, à cultura, às relações de domínio e de sobrevivência, nos custam incorporar na marcha da história e na evolução da civilização.
Mesmo usando a moderação da distância, a Inquisição e a Escravatura, por exemplo, custam a engolir.
Como as barbáries nazis e bolchevique (tão quase gémeas entre si), estas mais próximas de nós e que ainda estendem tentáculos até aos nossos dias na influência ideológica, nos paradigmas de suporte e até em poderes sobreviventes (periféricos mas reais).
A Escravatura, pela duração e pela brutalidade do negacionismo absoluto do ser humano, sempre me impressionou. E estremece-me saber que, durante seis séculos!, nós, os portugueses, fomos esclavagistas e especialistas na matéria.
Em visitas a África, especialmente em Cabo Verde (na Cidade Velha perto da cidade da Praia) e em Angola (a sul de Luanda frente a Mussulo), visitei, sempre com um misto de espanto e de vergonha, sinais sobreviventes dos mercados de escravos construídos e geridos pelos portugueses.
Olhando aqueles sinais vivos de memória, eu tentava entender aquilo mas não conseguia fazê-lo em paz. Fiz essas visitas na companhia de amigos africanos.
Olhando as pedras, as grades, os armazéns e os outros sinais, eu não conseguia evitar baixar os olhos para não encarar de frente os olhares dos meus amigos, sentindo-me como que culpado por aquilo que ali se tinha passado entre os meus antepassados e os daqueles africanos de hoje que me acompanhavam nas viagens.
No entanto, eu não conseguia ver, nos rostos dos meus amigos africanos, rancor ou acusação.
Numa das vezes, resolvi interrogar directamente o meu companheiro, atrapalhando as palavras.
A resposta veio-me calma e quase soletrada: “não, isto não foi só culpa vossa, fomos nós, os africanos, que começámos e vos ensinámos”.
Fiquei a matutar. E ele tinha meia razão (uma parte era condescendência por amizade, é claro).
De facto, a escravatura era prática habitual e culturalizada na maior parte das tribos africanas antes da nossa chegada. Se havia as chamadas “razias” em que os escravos eram arrebanhados, metidos em cativeiro e arrastados para os centros negreiros, muito do comércio de escravos era feito em negócio directo com os chefes das tribos que os vendiam aos portugueses (e a outros) como mercadoria de sua posse.
O que nós fizemos foi globalizar e intensificar esse mercado, exponenciando os seus lucros, sobretudo após as ocupações nas Américas.
Aliás, quando a escravatura foi oficialmente abolida (embora até ao início do século XX ela se mantivesse em franjas de mercado paralelo) pelos portugueses, em atraso muitos anos do abolicionismo inglês e sob pressão deste, foi uma carga de trabalhos (provocando várias expedições com essa finalidade) convencer muitos dos chefes tribais africanos do fim daquele negócio em que assentava muito do seu poderio.
Até porque as novas formas de exploração colonial que sucederam à escravatura (trabalho forçado, trabalho “contratado”) não se distanciavam assim tanto da brutalidade exploradora mas retiravam fonte importante de receitas aos chefes tribais.
Apesar de alguma relativização, ainda agora não deixa de me impressionar quando leio documentos históricos sobre a natureza, a prática e as finalidades do esclavagismo.
Com mais ou menos responsáveis, aquilo foi uma mancha negra e enorme na construção das civilizações modernas e na sobrevivência de muita da geopolítica que nos achega até hoje. E percebe-se, pois então, o embaraço, pelas culpas repartidas, que o tema ainda hoje causa quando discutido e aprofundado quer por europeus ou por africanos (seja ao nível político, seja ao nível académico).
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