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"GLOBALIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA"
Valmir Lima de Almeida
A participação política dos indivíduos na sociedade global apresenta-se como um caminho, uma das principais vias alternativas, para o alcance da inserção social e da diminuição das desigualdades económicas reveladas pela globalização.
O processo de globalização em marcha acabou com os limites geográficos, mas não eliminou a fome, a miséria e os problemas políticos de milhões de globalizados que vivem (ou sobrevivem) abaixo da chamada linha da pobreza absoluta.
Afastados dos centros das decisões pelos princípios excludentes do neoliberalismo, os indivíduos, limitados na própria capacidade de compreensão dos conceitos neoliberais, não encontram pontos de referência para tornarem-se agentes de influência política no processo global.
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A globalização é o cenário do desenvolvimento desigual. Ela é problemática e contraditória, dissolve espaços e tempos e impõe ao indivíduo padrões e valores desconhecidos.
Estas afirmações de Octavio Ianni (1995), dão a dimensão da aldeia global que vive o indivíduo no início deste novo século. Ao mesmo tempo em que perde raízes, se vê envolvo em uma imensa multidão de solitários, satelitizada, electrónica e desterritorializada. As mesmas condições que alimentam a interdependência e a integração, sustentam as desigualdades e contradições em âmbito global.
"A mesma fábrica da sociedade global, que se insere e que ajuda a criar e recriar continuamente, torna-se o cenário que desaparece".
É a expansão avassaladora das relações, processos e estruturas de dominação em escala global, que em qualquer lugar e a todo instante provocam uma apropriação e desapropriação de conceitos, que transbordam fronteiras e levam ao declínio a sociedade tradicional.
É uma sucessiva incorporação de novos mundos, onde "(...) as organizações políticas, económicas e culturais, prevalecem sobre os indivíduos, classes, grupos, partidos, Estados nacionais. Elas conseguem aliar-se com grupos locais, integram-se a sectores sociais, partidos ou governos, mas organizam-se segundo razões próprias, de ordem global.". Dessa forma, prevalecem sobre os indivíduos, que passam a viver a crise da razão.
O carácter particularista das estruturas económicas, aliado ao desconcerto social e cultural, tem colocado ao indivíduo as mais diversas formas de antagonismos, que dificultam-lhe a tomada de decisões e o inibe de participação política.
Uma análise da participação política dos indivíduos na sociedade globalizada, mostra que as dificuldades impostas pela globalização, para a conquista de autonomia, forjam-se na própria globalização, porém são alimentadas e tornam-se grandes barreiras, no despreparo, intelectual ou político, dos próprios indivíduos em tomar para si as rédeas do mundo global.
Ao indivíduo cabe perceber que as dificuldades de participação política na sociedade global não se resumem às questões ideológicas e económicas do neoliberalismo. Elas também se revelam em acções do quotidiano, como o comportamento consumista na compra de algum produto ou no processo de aculturação, de massificação de valores que sofre dos meios de comunicação.
Enfrentar e superar essas dificuldades, exige do indivíduo autonomia, a construção de uma identidade pessoal, capaz de delimitar espaços e gerar novas consciências de cidadania.
O alienante predomínio das coisas sobre os homens, tem criado enormes barreiras para a tomada de consciência dos indivíduos, o que dificulta ainda mais a superação das dificuldades de participação política e a consequente inserção na sociedade globalizada. O indivíduo não consegue ter domínio de um aparato mecanizado, que cria constantes necessidades, tenciona as relações sociais e dita as normas no mundo globalizado.
Somos escravos do nosso aperfeiçoamento técnico, "(...) modificamos tão radicalmente nosso meio ambiente que devemos agora modificar-nos a nós mesmos, para poder viver nesse novo ambiente."
O indivíduo tem extremas dificuldades de situar-se em uma sociedade, que assim como assinala o declínio do Estado-nação, faz emergir novos e megacentros mundiais de poder, soberania e hegemonia. A situação é tão problemática e contraditória que ele já não consegue identificar os donos do poder. Fica deslocado ainda mais do centro das decisões políticas, diante da doutrina neoliberal que transfere as possibilidades de soberania para as organizações, corporações e outras entidades de âmbito global.
As elites buscam criar condições que nunca se resolvem, acenam para os indivíduos, constantemente, com novas perspectivas, aliam-se a sectores sociais, partidos ou governos, mas definem as decisões segundo as suas razões e interesses políticos. Como destaca Octavio Ianni (1995, p. 79): "o povo, as massas, os grupos e classes sociais são induzidos a realizar as directrizes estabelecidas pelas elites modernizantes e deliberantes."
Ao indivíduo aparece uma globalização de padrões de consumo, de métodos e estilos que se neutralizam de formas diferentes na vida de cada um. A mesma diversificação de valores que lhe é apresentada, retira-lhe a capacidade da escolha autónoma e reduz-lhe a possibilidade de participação política.
Há de se considerar também a universalização dos meios de comunicação, que levou à aldeia global informatizada. Tudo que se globaliza, virtualiza-se. As próprias idéias transfiguram-se na magia da electrónica. Robotizado, o indivíduo não encontra o ponto de referência da reflexividade política.
"O partido, a opinião pública, o exercício do voto, a governabilidade, a estabilidade ou a instabilidade de regimes políticos, a magnitude ou a irrelevância dos factos sociais, económicos, políticos e culturais, tudo isso passa a depender, em alguma escala, da forma pela qual os Media descrevem e interpretam".
O problema maior do indivíduo é encontrar a essencialidade da verdade dos factos, parâmetros de compreensão entre o que informa e o que aliena na globalização. São questões essencialmente ideológicas, normalmente manipuladas pelos meios de comunicação de massa, e que expressam uma nova concepção acerca da transformação social e da prática política, imposta pelo neoliberalismo.
Ao indivíduo é necessário compreender que a globalização é um processo em marcha, inacabado, que modifica as suas condições de autonomia, porém não o impede de reflectir, pensar e agir. As dificuldades que enfrenta de participação política estão em encontrar-se na imensidão interactiva de conceitos, valores, idéias, que alargam ou reduzem horizontes, diante da maior ou menor capacidade de discernimento das forças que actuam no desenvolvimento da globalização, a qual, "(...) modifica substancialmente as condições de vida e trabalho, os modos de ser, pensar e imaginar. Modifica as condições de alienação e as possibilidades de emancipação dos indivíduos."
A globalização criou as condições de uma nova e moderna visão do mundo, porém não conseguiu evitar de ser, igualmente, uma fonte reveladora das imensas desigualdades sociais, das diversidades locais, nacionais e regionais, que assim como interagem, chocam-se nos limites e deslimites da aldeia global.
O desafio do indivíduo de vencer suas dificuldades de participação política está em grande medida, na capacidade do mesmo em compreender que a política deve ser uma actividade lúcida, que necessita de homens lúcidos, capazes de lutar por uma sociedade autónoma, que forme necessariamente indivíduos autónomos.
Cornellius Castoriadis (1992), considera que o grande desafio posto para os indivíduos na globalização é o de ascender a autonomia, ao mesmo tempo que absorve e interioriza as instituições existentes.
Uma política de autonomia, como recomenda Castoriadis, deve por sua vez, agir sobre os indivíduos, com o objectivo, de que possa ajuda-los a atingir a sua própria autonomia. Um projecto de autonomia é, pois, a transformação do sujeito de maneira que ele possa ser participante do processo, ou seja, tenha participação política na sociedade em que vive.
A participação política, portanto, é exigência básica para que o indivíduo supere as barreiras impostas pela globalização e consiga desenvolver acções de cidadania dentro da própria sociedade global. Nesse sentido, é necessário encurtar o distanciamento entre as formas institucionais existentes, sejam jurídicas ou políticas, e a real possibilidade de reconhecer nas leis, nas instituições, as suas próprias leis e o seu próprio poder.
A cidadania, compreendida como soberania, implica, necessariamente, em indivíduos que tenham alcançado um grau de autonomia, de participação política, de auto consciência. Nesta altura da globalização as possibilidades de auto consciência ainda são reduzidas, limitadas. O que predomina são incertezas, individuais ou colectivas, geradas pelo próprio processo de desterritorialização.
Em a "Sociedade Global", IANNI (1993, p.123), afirma que "o indivíduo somente pode realizar-se na sociedade. Está sempre na dependência de suas relações com os outros, mesmo que se iluda em sua auto-suficiência". Esta compreensão leva-nos a acreditar que as dificuldades que enfrenta o indivíduo para construir um projecto de autonomia está na razão das desigualdades e contradições sociais em âmbito global.
"A globalização exige também desterritorialização de decisões. O tomador de decisões terá que acostumar-se à falta de tempo para reflectir, já que uma pergunta dá a volta ao mundo em segundos."
Há uma constante reproblematização da própria sociedade global. As nações integram-se e desintegram-se na velocidade da luz. As transformações sociais são tão intensas, que assim como revolucionam pela informatização, fazem ressurgir factos que pareciam esquecidos, anacrónicos. Os horizontes abertos pela globalização iluminam o presente e recriam o passado.
Os indivíduos estão acoplados a uma Media impressa e electrónica, que transforma o mundo em paraíso das imagens, criam linguagens e formas de expressar que dissolvem as barreiras herdadas do territorialismo. Tudo se desterritorializa. O mundo transforma-se em território de todo mundo, "(...) se torna grande e pequeno, homogéneo e plural, articulado e multiplicado. Mesmo os centros decisórios mais fortes, nem sempre se afirmam absolutos, inquestionáveis. Globalizam-se perspectivas, dilemas sociais, políticos económicos e culturais. Os problemas nacionais mesclam-se com as realidades e os problemas mundiais."
É necessário, porém, que o indivíduo veja o mundo como um conjunto de nações e regiões formando um sistema global, integrado a uma rede de interdependências, que está a exigir-lhe a todo instante tomada de decisões. O posicionar-se exige-lhe a superação da crise da razão, isto é, o rompimento dos limites impostos pela tradição.
É importante que o indivíduo supere as práticas políticas instituídas no passado, para alcançar a participação política na globalização. A submissão, o conformismo e a alienação não lhe conduz ao caminho da autonomia, via principal para o alcance da reflexividade social, do conhecimento actualizado, da tomada de decisão e, por conseguinte, da própria participação política.
A autonomia é requisito básico para a participação política do indivíduo na globalização. Somente um indivíduo autónomo é capaz de processar e seleccionar informações, ter domínio de conhecimento, tomar decisões e posicionar-se frente a um mundo de riscos, incertezas e conflitos globais.
A autonomia leva o indivíduo à participação política, porém, não devem estar atreladas as justificações de ordem económica ou ideológica que o incapacitem ou impeçam a condição de ser, agir e entender as contradições que permeiam o mundo globalizado.
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COMENTÁRIO:
A participação política no fenómeno globalizante será, neste tempo, o maior paradigma da sociedade moderna e do “mundo político”.
Políticos e agentes económicos e sociais não se entendem quanto à matriz de uma Nova Ordem produzida pelo Mundo Global.
Se na Ordem Económica e Social predominam dúvidas e questões encobertas relativas a novas práticas e condutas de vida dos mercados, dos grupos sociais e das comunidades políticas, económicas e sociais, na Ordem Política predomina o caos do pensamento e da “atitude da razão” na conduta da condução do Negócio do Estado (em todos os padrões da sua atitude política e a todos os níveis do Poder Político transversal).
As consequências políticas, económicas e sociais são imprevisíveis e incontroláveis, e de uma dimensão (assustadora) muito superior ao fenómeno que lhe deu origem – a Globalização (naturalmente).
No fundo, todos temos medo de “Algo” que desconhecemos (em grau diferente) porque alguém que não gosta ou não concorda com a sua dinâmica política (da Globalização) se empenha em grandes campanhas mediáticas que lhe permitem atingir um padrão ambicionado para a Conduta Política dos Povos e dos Estados.
(ou por palavras diferentes, concretiza-se numa nova Forma de Poder no Estado)
No entanto, a dinâmica política e económica mundial, e a estratégia, consagraram a Globalização como fenómeno político inseparável do crescimento económico dos Estados e dos Povos, e incontornável; e o Liberalismo Social como Meio de Controlo e Prática Política da sua conduta de aplicação, e como ferramenta política para pôr Ordem no próprio Sistema Internacional daí emergente.
A Globalização é, pois, um fenómeno político mundial, global e um facto consumado para todos os povos do mundo.
“Conhecê-lo” é, pois, é um objectivo crítico.
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(end of the item)
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