http://fjjeparreira.blogspot.com...............
"O homem não nasceu para trabalhar, mas para criar" - Professor Agostinho da Silva
...............
"...
Para a Salvação da Democracia
Ora a democracia cometeu, a meu ver, o erro de se inclinar algum tanto para Maquiavel, de ter apenas pluralizado os príncipes e ter constituído em cada um dos cidadãos um aspirante a opressor dos que ao mesmo tempo declarava seus iguais. Ser esmagada pelos condottieri que dispõem das lanças mercenárias ou pela coalizão dos que manejam o boletim de voto é para a consciência o mesmo choque violento e o mesmo intolerável abuso; um tirano das ilhas vale os trinta de Atenas e os milhares de espartanos.
Pode ser esta a origem de muita reacção que parece incompreensível; há almas que se entregaram a outros campos porque se sentiam feridas pela prepotência de indivíduos que defendiam atitudes morais só fundadas na utilidade social, na combinação política.
E de facto, o que se tem realizado é, quase sempre, um arremedo de democracia sem verdadeira liberdade e sem verdadeira igualdade, exactamente porque se tomou como base do sistema uma relação do homem com o homem e não uma relação do homem com o espírito de Deus.
Por outras palavras: para que a democracia se salve e regenere é urgente que se busque assentá-la em fundamentos metafísicos e se procure a origem do poder não nos caprichos e disposições individuais, mas nalguma coisa que os supere e os explique, aprovando-os ou reprovando-os.
O indivíduo passaria a ser não a fonte mas o canal necessário ao transporte das águas; nenhuma autoridade sem ele, nenhuma autoridade dele.
Seria assim possível sacudir de vez as morais biológicas que nos têm proposto e, construindo um decálogo sobre os princípios divinos, ligar-lhe indissoluvelmente a política com uma simples extensão ou como outro aspecto de uma idêntica actividade. Não vejo outro alicerce senão o entendimento, o que, fazendo do animal a pessoa, ao mesmo tempo se coloca acima do indivíduo e se impõe como norma universal; e as maiorias, assim, só viriam a obrigar quando as suas resoluções coincidissem com a razão e com os fins últimos
que a Humanidade se propõe atingir.
..."
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'
O Professor Agostinho da Silva, nascido no final da monarquia portuguesa, viveu todas as mutações políticas ocorridas em Portugal no século XX. Conheceu a Primeira República, viu nascer e florescer o Estado Novo, o Fascismo e a ditadura em Portugal.
Assistiu (de longe) ao Golpe de Estado que depôs o regime político e impôs a democracia em Portugal.
Intelectual auto-didacta, lutou à sua maneira pela instauração de um regime democrático em Portugal. Escreveu pelos seus ideais políticos e sociais, foi perseguido pela polícia política do regime e refugiou-se no Brasil.
Já nos anos noventa, a convite do Governo Português, regressou ao seu país de nacionalidade e teve a oportunidade de leccionar na Universidade Portuguesa a sua sabedoria e os seus vastos conhecimentos fundados na cultura, na ciência e no conhecimento da vida, da política e do mundo.
(...)
Este texto parece falar por si e parece encomendado para o fim em vista inscrito no tema.
De facto, a Democracia em Portugal comete muitos erros; tantos, que apetece dar-lhe uma ajuda e corrigi-la dos seus defeitos de feitio bairrista de “tradição maioritariamente portuguesa”.
(??...)
Pode parecer normal confundir-se “corporativismo” com “União de Facto”, reclamando tal epíteto para essa “empresa”; mas, fica por explicar a natureza excessiva do materialismo dialéctico do discurso político em Portugal.
Ou então, o que interessa à elite política portuguesa será saber o que pode ganhar unitariamente para si com cada evento particular, antes (mesmo) de saber se tem lugar eleito nessa empreitada da comunidade de pessoas que presumivelmente se propõe representar.
Os ganhos, portanto, antes do trabalho pela causa perdida.
(e porque parece ser uma causa perdida não pensar nos ganhos)
Eis uma imagem da democracia actual em Portugal, cada vez mais exclusiva e elitista na sua causa social, cuja cura o Professor Agostinho da Silva explica melhor do que eu.
..........................................................
(end of the item)